Era uma vez um menino chamado Mathis, filho de um franco-português e mãe francesa, que reside na região parisiense e, que no dia seguinte à esmagadora vitória da selecção portuguesa de futebol sobre a sua congénere norte-coreana, vestiu a camisola da "equipa das quinas" e assim se apresentou na escola.
Porém, a felicidade de Mathis foi abruptamente interrompida pela directora do estabelecimento escolar, que o impediu de entrar na escola assim vestido, usando o argumento de que apenas tentava evitar conflitos entre alunos e entre pais de alunos que não teriam meios para comprar camisolas idênticas aos filhos.
Os pais de Mathis apresentaram então queixa contra a directora, que está agora a ser alvo de um inquérito da parte da hierarquia e falaram à imprensa francesa, que deu algum relevo ao caso.
O Pai do Bicho quer acreditar que este incidente se deve apenas ao mau feitio de uma Directora, que talvez tenha acordado mal disposta, talvez até decepcionada pelo vergonhoso comportamento da selecção do seu país. Naturalmente, esta sua atitude merecerá o repúdio dos seus concidadãos. Será mesmo injusto catalogar de chauvinista o povo francês por um acto isolado de um dos seus.
O nosso embaixador em França, Senhor Francisco Seixas da Costa não ficou indiferente a este caso e exteriorizou a sua apurada sensibilidade escrevendo uma carta de conforto à criança. Essa missiva mostra como é possível condenar o chauvinismo (do fr. chauvinisme, de Nicolas Chauvin, soldado de Napoleão tomado como tipo de patriota fanático) com inteligência, educação e diplomacia.
CARTA:
Olá Mathis
Soube há pouco, por um jornal, que não te deixaram entrar na escola, aqui em França, porque levavas vestida a camisola da seleção portuguesa. Os teus pais, ao que parece, ficaram aborrecidos com isso.
Queria dizer-te que não deves ficar preocupado com o que aconteceu. Pelos vistos, o objetivo da direção da tua escola foi evitar a possibilidade de outros meninos, de várias nacionalidades - a começar pelos franceses -, poderem meter-se contigo e criar alguma confusão. Se calhar, na tua escola, há meninos da Coreia do Norte...
É muito bom que tenhas sentido orgulho em usar a nossa camisola. A França é o país onde vives mas, como se viu, Portugal é o país que trazes no teu coração. É aqui que provavelmente irás fazer a tua vida no futuro, mas isso não te torna menos português. A França é uma terra onde há muita gente que veio de outros países, como de Portugal, à procura de oportunidades para trabalhar. A França deu-lhes essa possibilidade e os portugueses retribuíram com o seu trabalho, com a sua seriedade e honestidade para a riqueza da sociedade francesa. E aqui estão, também em sua casa. Ninguém deve nada a ninguém. E tu és a melhor prova do sucesso da integração dos portugueses em França, com a tua mãe francesa e o teu pai luso-descendente.
Os portugueses que aqui vivem devem ser sempre leais para com a França que os acolhe, da mesma maneira que a França tem de aceitar que tu, tal como os outros meninos que se sintam ligados a Portugal, possam exprimir isso, nas ruas ou nas camisolas. Pode discutir-se se a escola é o lugar mais indicado para andar com as camisolas da nossa seleção, mas, aos teus amigos de cá, deves lembrar que foi a Revolução Francesa, aquela que está na bela "La Marseillaise", que ensinou o mundo a lutar pela liberdade, a defender a igualdade entre todos e a demonstrar a nossa fraternidade perante os outros.
Para ti, caro Mathis, quero deixar-te um abraço bem lusitano e um convite para, um destes dias, vires, com os teus pais, visitar a Embaixada. E também espero que, qualquer que seja o resultado que a seleção portuguesa venha a ter no Mundial, tragas vestida a camisola das quinas. É que nós, os portugueses, temos por tradição ser muito orgulhosos do nosso país, nos bons e nos maus momentos.
Francisco Seixas da Costa
Porém, a felicidade de Mathis foi abruptamente interrompida pela directora do estabelecimento escolar, que o impediu de entrar na escola assim vestido, usando o argumento de que apenas tentava evitar conflitos entre alunos e entre pais de alunos que não teriam meios para comprar camisolas idênticas aos filhos.
Os pais de Mathis apresentaram então queixa contra a directora, que está agora a ser alvo de um inquérito da parte da hierarquia e falaram à imprensa francesa, que deu algum relevo ao caso.
O Pai do Bicho quer acreditar que este incidente se deve apenas ao mau feitio de uma Directora, que talvez tenha acordado mal disposta, talvez até decepcionada pelo vergonhoso comportamento da selecção do seu país. Naturalmente, esta sua atitude merecerá o repúdio dos seus concidadãos. Será mesmo injusto catalogar de chauvinista o povo francês por um acto isolado de um dos seus.
O nosso embaixador em França, Senhor Francisco Seixas da Costa não ficou indiferente a este caso e exteriorizou a sua apurada sensibilidade escrevendo uma carta de conforto à criança. Essa missiva mostra como é possível condenar o chauvinismo (do fr. chauvinisme, de Nicolas Chauvin, soldado de Napoleão tomado como tipo de patriota fanático) com inteligência, educação e diplomacia.
CARTA:
Olá Mathis
Soube há pouco, por um jornal, que não te deixaram entrar na escola, aqui em França, porque levavas vestida a camisola da seleção portuguesa. Os teus pais, ao que parece, ficaram aborrecidos com isso.
Queria dizer-te que não deves ficar preocupado com o que aconteceu. Pelos vistos, o objetivo da direção da tua escola foi evitar a possibilidade de outros meninos, de várias nacionalidades - a começar pelos franceses -, poderem meter-se contigo e criar alguma confusão. Se calhar, na tua escola, há meninos da Coreia do Norte...
É muito bom que tenhas sentido orgulho em usar a nossa camisola. A França é o país onde vives mas, como se viu, Portugal é o país que trazes no teu coração. É aqui que provavelmente irás fazer a tua vida no futuro, mas isso não te torna menos português. A França é uma terra onde há muita gente que veio de outros países, como de Portugal, à procura de oportunidades para trabalhar. A França deu-lhes essa possibilidade e os portugueses retribuíram com o seu trabalho, com a sua seriedade e honestidade para a riqueza da sociedade francesa. E aqui estão, também em sua casa. Ninguém deve nada a ninguém. E tu és a melhor prova do sucesso da integração dos portugueses em França, com a tua mãe francesa e o teu pai luso-descendente.
Os portugueses que aqui vivem devem ser sempre leais para com a França que os acolhe, da mesma maneira que a França tem de aceitar que tu, tal como os outros meninos que se sintam ligados a Portugal, possam exprimir isso, nas ruas ou nas camisolas. Pode discutir-se se a escola é o lugar mais indicado para andar com as camisolas da nossa seleção, mas, aos teus amigos de cá, deves lembrar que foi a Revolução Francesa, aquela que está na bela "La Marseillaise", que ensinou o mundo a lutar pela liberdade, a defender a igualdade entre todos e a demonstrar a nossa fraternidade perante os outros.
Para ti, caro Mathis, quero deixar-te um abraço bem lusitano e um convite para, um destes dias, vires, com os teus pais, visitar a Embaixada. E também espero que, qualquer que seja o resultado que a seleção portuguesa venha a ter no Mundial, tragas vestida a camisola das quinas. É que nós, os portugueses, temos por tradição ser muito orgulhosos do nosso país, nos bons e nos maus momentos.
Francisco Seixas da Costa
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