quinta-feira, 6 de maio de 2010

BAPTISTA PEREIRA - O Herói da Mancha

Há cerca de um mês, quando o Pai do Bicho participou num passeio pedestre em Alhandra, deu de caras com o busto do famoso nadador BAPTISTA PEREIRA, que foi um dos seus ídolos de infância e decidiu dar a conhecer a uns e trazer à lembrança de outros, uma singela biografia do primeiro português que atravessou a nado o Canal da Mancha.
No dia 7 de Março de 1921 nasceu em Alhandra um menino que se tornaria famoso pelas proezas alcançadas na natação. Chamava-se Joaquim Baptista Pereira.
Filho de pessoas humildes, desde cedo começou a acompanhar o seu pai, pescador, na faina, onde além de aprender a profissão, aprendeu também a nadar.
Para desespero dos pais, a pouco e pouco, sozinho, começou a aventurar-se no rio a nadar cada vez maiores distâncias. Quando os seus pais se zangavam com ele era frequente nadar até aos mouchões do Tejo.
Rapidamente se começou a conhecer as proezas do jovem e todos os seus conterrâneos começaram a augurar-lhe um futuro brilhante na natação e não descansaram enquanto não obtiveram autorização dos pais para o inscreverem no clube local, o Alhandra Sporting Club. Aos 13 anos já era o garoto mais popular da sua terra.
Os seus êxitos em piscina e nas clássicas travessias, rapidamente se foram avolumando, tornando-se num dos melhores nadadores nacionais da época. Um dia travou conhecimento com um nadador argentino que se tinha deslocado a Lisboa e a sua vida mudou, passando a dedicar-se a tempo inteiro às provas de fundo. Após varias provas em mar aberto com assinaláveis sucessos, recebe o convite mais desejado: participar na prova de Travessia do Canal da Mancha.
Para tal, o seu treino aponta para conseguir esse desiderato. Baptista Pereira começa a percorrer longas distâncias a nado como de Lisboa a Vila Franca de Xira, do Barreiro a Alhandra e de Peniche às Berlengas. A 21 de Agosto de 1954, finalmente, foi dada a partida para a clássica prova e para espanto de todos, saiu vencedor, nadando os 34 kms. que separam a França de Inglaterra em 12h25m. Foi um dos maiores feitos desportivos portugueses até essa data.
A população de Alhandra recebeu-o em festa e em gratidão para o seu conterrâneo construíram e ofereceram-lhe uma casa que ele habitou com a sua família.
Eis alguns feitos do seu enorme palmarés desportivo:
- Em 1936, com 15 anos efectua a primeira Travessia do Tejo ficando em 3º. Lugar;
- Nesse mesmo ano, em piscina, bate o seu primeiro recorde dos 400 metros livres, principiantes, com o tempo de 5m59s;
- Em 1937, baixa o seu recorde dos 400 metros livres para o tempo de 5m5s;
- Em 1938, consegue vencer a Travessia do Tejo, a clássica prova de fundo da natação portuguesa;
- Foi o recordista nacional dos 1 500 metros livres juniores;
- Foi vencedor da Travessia de Sesimbra e da Meia-Milha da Foz;
- Em 1950, nadou 35 km de Alhandra até Lisboa, em 5h4m;
- Bateu o recorde da Europa de Longa Distância e Permanência na água com 26h12m, tendo percorrido 166 600 metros;
- Em 1953, bateu o recorde mundial da Travessia do Estreito de Gibraltar.
- Em 1954, bateu o recorde mundial da Travessia do Canal da Mancha.
- Em 1959, completou novamente a Travessia do Canal da Mancha.
- Em 1959, estabelece novo recorde da Europa de distância e permanência na água, com 206 Km em 28h43m.
Baptista Pereira faleceu em 1984 e, há pouco tempo, a autarquia alhandrense homenageou este brioso filho da terra colocando o seu busto no início do caminho ribeirinho que liga Alhandra a Vila Franca de Xira.

O Pai do Bicho está convicto que os êxitos de Baptista Pereira apareceram fora de tempo, pois se o nadador tivesse nascido 50 anos mais tarde, teria a devida compensação material e a forte mediatização que caracteriza esta época tê-lo-ia projectado para um nível de prestígio idêntico ao de Carlos Lopes, Rosa Mota, João Garcia, Joaquim Agostinho, Eusébio, Luís Figo, Cristiano Ronaldo, José Mourinho, etc...

3 comentários:

Al Marinheiro disse...

Pessoalmente, conheci o Baptista Pereira a bordo do Navio-Hospital Gil Eanes, como homem simpático, atencioso e generoso membro da tripulação, assim como o também grande médico, poeta e dramaturgo Dr. Bernardo Santareno, também ali embarcado como médico ao serviço da frota bacalhoeira, onde colheria elementos para a sua obra.
Com estes dois Gigantes, do desporto e da arte, tive o prazer de po0r vezes estabelecer alguns diálogos.
Aqui, quero recordar um dia em que estávamos atracados em North Sydnei e, por brincadeira entre os tripulantes, fizeram uma pequena prova de natação ao longo da enseada.
Enquanto os outros «atletas» logo partiram à porfia, o Baptista Pereira quedar-se-ia no cais por mais uns momentos. Alertado para o facto dir-nos-ia «deixaios ir indo»...
Pouco depois, lançava-se à água, e de costas, lá ia ultrapassando uns e outros, como se fosse movido por uma qualquer turbina invisível...
Simplesmente fantástico !
Estávamos então nos finais de Verão de 1958.

Al bino Gomes
Vila do Conde

Mário Vitorino Gaspar disse...



Conheci o Grande Nadador e o Homem. Foi ele que com um tronco longo bateu nas minhas mãos, na Piscina do Alhandra Sporting Clube, tinha 11 anos, cada vez que ma agarrava ao muro da piscina dá-vá-me outro toque e terminei por fazer 19 metros. Aprendera a nadar. Vivíamos numa terra e todos nos conhecíamos. Baptista Pereira foi um Grande Amigo que tive, Amigo para Sempre. Era muito novo, ele mesmo me desafiava para a conversa. Nas vésperas do seu falecimento, ambos sentados num banco no Largo da Praça (nome porque é conhecido o local, por se situar num largo fronteiriço ao Mercado, junto da Estátua de Sousa Martins tivemos o derradeiro desafio, a última conversa. Conheço a sua vida. As suas últimas palavras que escutei da sua boca são o seu Retrato: - O Gineto do Livro "Esteiros" era um filósofo. Alguém do Cinema devia transpor para a tela a História do Gineto que se tornou um Génio do Mundo da Natação.

Mário Vitorino Gaspar disse...



Julgam ser mentira aquilo que disse? Poucas pessoas vivas podem hoje narrar a História deste Grande Nadador do Mundo. Aquele que se encontrava em melhores condições - o Escritor Júlio Graça, faleceu - todos os outros já cá não estão. Escrevi um livro e narro algo deste Grande Homem. O Autor do Livro "Esteiros", era comunista e encontrava-se preso pela PIDE, numa casa em Lisboa quando faleceu. Os Operários de Alhandra foram despedir-se deste grande Homem. O Nosso Joaquim Baptista Pereira também era Comunista, tal como o Nosso Nobel Saramago. E dos comunistas não reza a História.