domingo, 25 de abril de 2010

OTELO SARAIVA DE CARVALHO - O ESTRATEGA

Há um ano o Pai do Bicho elegeu para homenagear nesta página a figura de Salgueiro Maia - "o anti-herói". Hoje o destaque vai para uma das personalidades mais mediáticas que influenciou o curso da nossa História.
Foi a partir do Posto de Comando clandestino instalado no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, que um homem dirigiu as operações militares do movimento que derrubou o regime de Marcelo Caetano, em 25 de Abril de 1974. Esse homem foi OTELO SARAIVA DE CARVALHO.Segundo filho de um funcionário dos CTT e de uma empregada dos caminhos-de-ferro, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho nasceu em Lourenço Marques (hoje Maputo) a 31 de Agosto de 1936. Evacuado para Lisboa aos seis anos, por sofrer de paludismo, ficou a viver com os avós maternos, frequentando a escola primária da Visconde Valmor. Seguiu-se o Liceu Camões, onde fez o 1º ano, regressando depois a Lourenço Marques, onde fez o 5º ano. O seu herói imaginário era então Robin dos Bosques. Retornou a Lisboa e ao Camões para fazer o 6º ano, mas acabou o 7º ano já em Moçambique. Cumprido o 7º ano, viu-se obrigado a seguir para a Escola do Exército por imposição do avô.
O contacto com os militares spinolistas, mais preparados política e culturalmente, na Guiné permitiu-lhe começar a abrir os olhos. Foi capitão em Angola de 1961 a 1963 e também na Guiné entre 1970 e 1973. Na fase final da guerra, foi um dos principais dinamizadores do movimento de contestação ao Decreto Lei 353/73, que deu origem ao Movimento dos Capitães e ao MFA. A circunstância de ser professor de táctica de Artilharia na Academia Militar aconselhava-o para o desempenho da complexa e arriscada missão de pôr fim à ditadura. Foi por isso designado responsável pelo sector operacional da Comissão Coordenadora do MFA.

Ninguém terá tido na agitada história da democracia portuguesa tanto poder ao seu alcance, nem nunca ninguém o terá recusado de forma tão categórica como ele. Não quis o cargo de chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, que lhe foi oferecido por Spínola logo a seguir ao golpe, e recusou a possibilidade de ascender à Presidência da República, ponderada no "Verão Quente" de 75.Graduado em brigadeiro, foi nomeado Comandante-adjunto do COPCON e Comandante da região militar de Lisboa a 13 de Julho de 1974, tendo passado a ser Comandante do COPCON a 23 de Junho de 1975 (cargo que na prática já exercia desde Setembro de 1974). Foi afastado destes cargos após os acontecimentos de 25 de Novembro de 1975. Fez parte do Conselho da Revolução desde que este foi criado, a 14 de Março de 1975. A partir de 30 de Julho do mesmo ano integra, com Costa Gomes e Vasco Gonçalves, o Directório, estrutura política de cúpula durante o V Governo Provisório, na qual os restantes membros do Conselho da Revolução delegaram temporariamente os seus poderes (mas sem abandonarem o exercício das suas funções).
Conotado com a ala mais radical do MFA, viria a ser preso em consequência dos acontecimentos do 25 de Novembro. Libertado três meses mais tarde, foi candidato às eleições presidenciais de 1976. Volta a concorrer às eleições presidenciais de 1980.Em 1985 foi preso na sequência do caso FP-25. Foi libertado cinco anos mais tarde, após ter apresentado recurso da sentença condenatória, ficando a aguardar julgamento em liberdade provisória. Em 1996 a Assembleia da República aprovou uma amnistia para os presos do Caso FP-25.
Muita gente não sabe ou não compreende que Otelo cometeu alguns erros mas ficou completamente só e o fardo da revolução rebentou-lhe nas mãos.
Amado e odiado com uma intensidade raras vezes anotada na História recente ou remota de Portugal, Otelo Saraiva de Carvalho, o comandante operacional do 25 de Abril, é o herói da mais pacífica revolução da História que importa conhecer.

2 comentários:

Amorgen disse...

É simplesmente o maior, e maior estratega português Sec. XX. Tenho pena de o não conhecer pessoalmente e assim poder lhe dar os parabéns. Espero um dia o poder fazer e apertar a mão ao homem que nos deu a liberdade.

mestras disse...

Moito obrigada