segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

ISRAEL E OBAMA

Agencia France Press - Publicada en El País - 27-12-2008
Hoje, o "Pai do Bicho" transcreve na íntegra o artigo publicado no último dia de 2008, no Caderno de Saramago, no blog da sua Fundação. ( http://caderno.josesaramago.org/page/2/ )
Esta abordagem ao tema do conflito entre Israel e a Palestina, não só se reveste da maior actualidade, como é muito interessante e reveladora do posicionamento dos "States" face ao conflito e, do bloqueio dos governantes israelitas à ajuda humanitária, impedindo o legítimo acesso a medicamentos e víveres indispensáveis à sobrevivência daqueles que vivem na faixa de Gaza.
"Pai do Bicho"

ISRAEL
Por: José Saramago

"Não é do melhor augúrio que o futuro presidente dos Estados Unidos venha repetindo uma e outra vez, sem lhe tremer a voz, que manterá com Israel a “relação especial” que liga os dois países, em particular o apoio incondicional que a Casa Branca tem dispensado à política repressiva (repressiva é dizer pouco) com que os governantes (e porque não também os governados?) israelitas não têm feito outra coisa senão martirizar por todos os modos e meios o povo palestino. Se a Barack Obama não lhe repugna tomar o seu chá com verdugos e criminosos de guerra, bom proveito lhe faça, mas não conte com a aprovação da gente honesta. Outros presidentes colegas seus o fizeram antes sem precisarem de outra justificação que a tal “relação especial” com a qual se deu cobertura a quantas ignomínias foram tramadas pelos dois países contra os direitos nacionais dos palestinos.
Ao longo da campanha eleitoral Barack Obama, fosse por vivência pessoal ou por estratégia política, soube dar de si mesmo a imagem de um pai estremoso. Isso me leva a sugerir-lhe que conte esta noite uma história às suas filhas antes de adormecerem, a história de um barco que transportava quatro toneladas de medicamentos para acudir à terrível situação sanitária da população de Gaza e que esse barco, Dignidade era o seu nome, foi destruído por um ataque de forças navais israelitas sob o pretexto de que não tinha autorização para atracar nas suas costas (julgava eu, afinal ignorante, que as costas de Gaza eram palestinas…) E não se surpreenda se uma das suas filhas, ou as duas em coro, lhe disserem: “Não te canses, papá, já sabemos o que é uma relação especial, chama-se cumplicidade no crime”. "
Os cadáveres de cinco irmãs palestinas de 4 a 17 anos mortas no bombardeamento nocturno israelita a uma mesquita do campo de refugiados de Yabalia jazem na morgue de um hospital Agencia France Press - Publicada en El País - 27-12-2008

Sem comentários: